30 anos de
congregacionalismo em Mossoró: fatos, vidas, serviço
“A vida passa
depressa, e nós voamos!” (Sl 90.10 NVI). Olhar para a história da Igreja
Evangélica Congregacional de Mossoró e constatar que já se passaram trinta anos
é perceber quão verdadeiras são as palavras do versículo acima, pois tudo
passou muito rapidamente. Dizem que recordar é sofrer duas vezes. No entanto,
em se tratando dessa história, recordar é ter a felicidade de reviver a ação de
Deus em cada fato que a constitui, em cada vida que se disponibilizou a
contribuir, em cada serviço prestado a Deus nessa obra durante essas três
décadas. Por essa razão, vamos rememorar os momentos mais relevantes de nossa
história, encontrando, em cada um deles, motivos para engrandecer ao Senhor da
seara.
Era 30 de julho de
1983. Um sábado especial. Na modesta residência dos irmãos José Cipriano da
Silva (in memorian) e Valquíria Paiva, no Conjunto Abolição I, realizou-se o
primeiro culto da atual Igreja Evangélica Congregacional de Mossoró. Aquela
reunião foi resultado da iniciativa da UIECB de enviar a Mossoró o Pr. Júlio
Leitão de Melo Neto, com o propósito de iniciar um trabalho Congregacional em nossa
cidade, haja vista já haver aqui três membros dessa denominação, vindos da IEC
de Catolé do Rocha-PB, Congregação de Almino Afonso-RN: os dois acima citados e
a irmã Cleonice Cipriano. Aquela Igreja era pastoreada pelo Reverendo Antonio
Francisco Neto, de saudosa memória, de quem procederam o desejo e a iniciativa
de iniciar um trabalho congregacional nesta cidade.
Além desses
irmãos, também havia em Mossoró a família do irmão José Paula Neto, composta
por ele, esposa e dois filhos. Essa família era Congregacional, embora da
AIECB. Vindos de Campina Grande-PB, também tinham imenso desejo de ver
implantada, em Mossoró, uma igreja Congregacional. Esses irmãos também
participaram daquele primeiro culto.
Dali em diante, até
o início do ano de 1986, o trabalho continuou ocorrendo semanalmente, sob a
direção do irmão Neto, que, muitas vezes, também era o pregador, exceto quando
trazia convidados de outras denominações. Em intervalos irregulares, recebíamos
visitas de pastores da UIECB: inicialmente, o Pr. Júlio Leitão; depois, o Pr.
José Batista (que nos visitou apenas uma vez) e, posteriormente, o Pr. Odias
Alves Teixeira.
Os cultos eram
realizados aos sábados e/ou domingos à noite, uma vez que o irmão Neto residia
em Governador Dix-Sept Rosado, onde era funcionário do Banco do Brasil. Nos
primeiros meses, o local de cultos era a residência do irmão José Cipriano, mas
logo passou a ser a casa da irmã Cleonice Cipriano, no bairro Santo Antonio,
local considerado mais estratégico para o trabalho de evangelização.
A primeira
conversão, fruto desse trabalho, ocorreu no dia 21 de outubro de 1984. Trata-se
do hoje Presbítero Marinézio Gomes de Oliveira, filho da irmã Cleonice. Embora
haja se convertido apenas nesse dia, esse irmão já vinha se fazendo presente em
todos os cultos até então realizados e, desse dia em diante, passou a
contribuir ativamente com as atividades.
O primeiro culto
de oração ocorreu no dia 13 de novembro de 1984, na residência do irmão José
Cipriano da Silva, o que comprova as dificuldades que tínhamos para nos reunir,
dado o fato de o irmão Neto, aquele que conduzia as atividades, só estar em
Mossoró durante os finais de semana.
No dia 24 de
agosto de 1985, recebemos a primeira visita do irmão Jairo Batista de Lima e
família (esposa e três filhos), membros da IEC de Natal (AIECB), mas residentes
em Mossoró. Essa família integrou-se ao grupo, passando a colaborar com o
trabalho. Dessa forma.
No dia 22 de março
de 1986, recebemos a primeira visita da AIECB. Estiveram conosco os pastores
Romildo Teixeira de Souza (IEC Natal), Pedro Bezerra da Silva (in memorian) e
Gilvan Crisóstomo, além do diácono Adirson Cavalcante (in memorian). Em reunião
com esse grupo, os irmãos de Mossoró decidiram filiar-se à AIECB, haja vista o
fato de a UIECB não haver dado, durante esses quase três anos, a assistência
devida ao trabalho, bem como porque o número de irmãos pertencentes a igrejas
da AIECB era maior que o daqueles filiados à UIECB. Passamos, então, a ser
congregação da IEC Natal e a contar com a assistência financeira da
denominação, mais especificamente do Departamento de Orientação Missionária. Nesse
mesmo dia, foi realizado o primeiro culto de Santa Ceia, na residência da irmã
Cleonice Cipriano.
A primeira Escola
Bíblica Dominical ocorreu no dia 13 de abril de 1986, na residência do irmão
José Cipriano. Tivemos apenas uma classe, formada por adultos, que teve como
professor o irmão José Paula Neto.
No dia 10 de maio
desse mesmo ano, o trabalho passou a funcionar em um prédio alugado, situado na
rua Melo Franco, 889, no bairro Santo Antônio. No entanto, a inauguração
oficial desse local ocorreu somente no dia 07 de junho de 1986, em um culto
dirigido pelo Pr. Romildo Teixeira e que teve como preletor o Pr. Pedro Bezerra
da Silva, representando a denominação. Nesse culto, ocorreu o primeiro batismo,
o do irmão Marinézio Gomes de Oliveira.
A partir de então,
a IEC Natal passou a nos dar assistência, enviando mensalmente o Pr. Romildo
Teixeira, que sempre vinha acompanhado de um grupo de irmãos daquela igreja.
No dia 10 de
agosto de 1987, recebemos o nosso primeiro pastor: Raimundo Ferreira do Amorim,
que, juntamente com sua esposa, Missionária Gineide Mendes do Amorim, vieram
assumir o trabalho em tempo integral, aqui permanecendo até julho de 1988. Esse
casal e seus três filhos vieram da cidade de Pombal-PB, onde o Pr. Raimundo
pastoreava a Igreja Congregacional.
Em janeiro de
1988, a Congregação mudou de endereço, passando a situar-se na rua Francisco
Chagas Albuquerque, 889, no bairro Santo Antônio. Nesse período, experimentamos
um considerável crescimento numérico, haja vista serem Pr. Raimundo e Gineide
abençoados evangelistas.
Infelizmente, porém, em julho desse mesmo ano,
o trabalho, que estava em pleno desenvolvimento, passou por uma divisão, e o
grupo que permaneceu na denominação voltou a reunir-se no antigo endereço, sob
a liderança dos irmãos José Paula Neto e Jairo Batista de Lima.
No dia 01 de abril
de 1989, tivemos a primeira reunião de Mocidade, sob a direção do irmão José Paula
Neto e contando com a participação de seis jovens. Nessa ocasião, foi eleita a
primeira diretoria da UMEC Mossoró, que teve à frente o presbítero Marinézio
Gomes.
Em 06 de abril de
1989, recebemos nosso segundo dirigente em tempo integral, o então evangelista
José Lacerda de Oliveira, que passou a residir em Mossoró, juntamente com a
esposa e cinco filhos, todos crianças à época.
Esses abençoados
irmãos estiveram à frente do trabalho até março de 1992. Durante o período em
que aqui estiveram, a congregação foi muito abençoada, a ponto de transferir-se
para sua sede própria, o que ocorreu em fevereiro de 1990. Como resultado de um
admirável esforço da denominação, por meio do Departamento de Orientação
Missionária (DOM), foi adquirido um imóvel, composto de uma casa – onde
passaram a residir o Evangelista Lacerda e sua família – e uma garagem, onde
passaram a ocorrer os cultos. Para a aquisição desse imóvel, contribuíram
várias igrejas da ALIANÇA, pelas quais tributamos aqui nossa gratidão a Deus,
bem como ao Pastor Marcone de Carvalho, que liderou essa empreitada.
Desde então, passamos a nos reunir no endereço
em que estamos até hoje. A inauguração oficial desse novo templo (à época, bastante
modesto) ocorreu no dia 02 de abril de 1990, em um culto dirigido pelo Pr.
Romildo Teixeira de Souza e que teve como preletor o Pr. Washington Machado
Barbosa, então Presidente do Departamento de Orientação Missionária.
Além desse marco,
o ministério do Evangelista José Lacerda em nossa Igreja foi agraciado por
muitas bênçãos, uma vez que ele, embora seja um pastor leigo – ordenado como
tal apenas posteriormente – é um autêntico servo do Deus Altíssimo, exemplar no
testemunho, na demonstração de amor para com os irmãos e no zelo para com a
obra do Senhor. Foi um período de muita paz e comunhão entre os irmãos, haja
vista que a unidade entre estes sempre foi prioridade para esse homem de Deus.
Em 1992, o irmão
Lacerda – como o chamávamos – resolveu sair de Mossoró e assumir o campo
missionário que a ALIANÇA estava iniciando na capital cearense. No entanto, assumiu
o compromisso de só sair de Mossoró quando aqui deixasse seu substituto. Dessa
forma, no dia 07 de março de 1992, tivemos o culto especial de despedida do
evangelista José Lacerda e de posse do Pr. Fredson Fábio Barbosa da Silva, que,
juntamente com sua esposa, Urânia Almeida Barbosa, assumiram a liderança do
trabalho. O culto foi dirigido pelo Pr. Romildo Teixeira e teve três
preletores: a palavra de gratidão a Deus pela vida do evangelista José Lacerda
foi proferida pelo Pr. Severino Luís de Oliveira (in memorian), então
Presidente do DOM; a de posse do Pr. Fredson, pelo Pr. Samuel Dionísio de
Veras, então Presidente da denominação; e a preleção oficial, pelo Pr. Antonio Alberto
de Sousa Matos.
Em 15 de janeiro
de 1994, o Pr. Fredson deixou Mossoró e passou a pastorear uma igreja
congregacional em Caruaru-PE. O ministério desse jovem casal em nossa igreja, a
despeito de sua brevidade, foi extremamente abençoado. Ele, muito dedicado à
pregação e à área de música, desenvolveu um ministério marcante nessas áreas,
envolvendo, sobretudo, os jovens; ela, muito dinâmica, realizou um brilhante
trabalho com os adolescentes, bem como dinamizou bastante o ministério de
louvor na Igreja. Além disso, lideraram a construção do primeiro templo, cuja
fachada ainda hoje pode ser visualizada no prédio anexo ao templo atual.
Em 08 de abril de
1994, recebemos o Pr. Manuel Marreiro Neto, que foi empossado oficialmente em
14 de maio daquele mesmo ano, em um culto dirigido pelo Pr. Romildo Teixeira de
Souza e que teve como pregador o Pr. Pedro Bezerra da Silva.
O Pr. Marreiro,
sua esposa e seu filho mais velho, estiveram conosco até 04 de fevereiro de
1996, quando entregaram o trabalho a uma comissão composta pelos irmãos
Marinézio Gomes, Marcelino Pereira e Antonio Edilson. O ministério desse casal,
que também era bastante jovem e dinâmico, foi marcado por grandes bênçãos. Ele,
como exímio pregador e dedicado estudante da Bíblia, sempre se destacou nessa
área, não obstante haver dado sua contribuição em outras áreas, como, por
exemplo, na coordenação da construção de alguns departamentos da Igreja e no
início da edificação da casa pastoral.
Dentre os frutos
desse trabalho, podemos citar a reconciliação da irmã Áurea Marques, atual
Superintendente da Escola Bíblica Dominical e Presidente da União Auxiliadora
Congregacional, bem como a conversão e o batismo dos irmãos Fernanda Carvalho,
atual seminarista e Diretora do Conselho de Missões, e Antonio Edilson de
Oliveira, que, posteriormente, veio a ser o primeiro diácono da Igreja, com a
qual sempre contribuiu, sobretudo disponibilizando sua residência tanto para,
no início, ser o local de cultos, quanto para, até hoje, hospedar pastores e
outros irmãos.
Em 12 de janeiro
de 1997, recebemos o pastor José Barbosa de Lima e sua família (esposa e dois
filhos). Sua posse oficial ocorreu no dia 22 de fevereiro daquele ano, em um
culto no qual o irmão Antônio Edilson de Oliveira foi consagrado ao diaconato.
Esse culto foi dirigido pelo Pr. Manuel Antônio do Carmo Filho (que acabara de
assumir a IEC Natal) e teve como preletor o Pr. Romildo Teixeira de Souza.
O ministério do
Pr. Barbosa – forma como todos o tratamos – foi o mais longo dentre o de todos
os pastores que já assumiram a IEC Mossoró. Foram quase dezesseis anos, durante
os quais vivenciamos significativos avanços, alguns dos quais relatamos a
seguir.
No que se refere
ao oficialato da Igreja, tivemos, além da já mencionada consagração do diácono
Antônio Edilson, a dos seguintes irmãos: no dia 20 de janeiro de 2001, Marinézio
Gomes de Oliveira, nosso primeiro presbítero, e Rafael Alves Teixeira, diácono;
no dia 28 de dezembro de 2003, Roberto Carlos Silveira Dutra e Francisco Cosme
de Sousa, diáconos; em janeiro de 2005, Roberto Carlos Silveira Dutra
(presbítero) e Robson Raphael Martins Pinto (diácono). Posteriormente, foram
consagrados mais dois diáconos: João Rocha Filho e Francisco Laurindo da Silva.
Atualmente, contamos com dois presbíteros (Marinézio Gomes e Roberto Carlos) e
dois diáconos (João Rocha e Robson Raphael).
No período de 04 a
10 de fevereiro de 2001, ocorreu o 46º Concílio Nacional da AIECB, durante o
qual fomos emancipados e nos tornamos Igreja, uma vez que, até então, éramos
congregação da Primeira Igreja Congregacional de Natal.
No dia 22 de
agosto de 2002, foi aberta a Congregação dos Paredões, que funcionou em imóveis
alugados e, durante quase dez anos, permaneceu naquele bairro, onde residiam
alguns membros da Igreja. A liderança dessa congregação esteve inicialmente nas
mãos do diácono Robson Raphael e do irmão José Arimateia e, posteriormente,
passou para o presbítero Roberto Carlos que, juntamente com sua esposa,
estiveram à frente daquele trabalho até o início de 2012, quando a Igreja
resolveu fechá-lo e continuar as reuniões nas casas dos irmãos ali residentes.
Um outro marco do
ministério do Pr. Barbosa foi o da área de construção. Inicialmente, concluiu a
edificação da casa pastoral, da qual ele e sua família foram os primeiros
moradores. Em 1999, graças ao empenho dele próprio, da Igreja e da denominação,
foi adquirido um outro imóvel, o que nos permitiu a construção do templo em que
ora nos reunimos. Após a construção do novo templo, o anterior deu lugar a
algumas salas e à garagem. Em todas essas obras, esse pastor envidou esforços
que nunca poderão deixar de ser mencionados sempre que se relatar a história da
IEC Mossoró.
No dia 25 de
dezembro de 2012, após conduzir o culto de Natal, Pr. Barbosa entregou a
direção da Igreja aos oficiais, que a conduziram até o mês de abril, uma vez
que, no dia 17 daquele mês, foi eleito, por unanimidade, o Pr. Joziran Vieira
do Nascimento, que, seguindo a direção do Senhor, assumiu o pastorado desta
Igreja, após desenvolver um curto, mas abençoado ministério na Igreja
Congregacional de Apodi.
Pastor Joziran,
juntamente com sua esposa e seu filho, transferiu-se para Mossoró no dia 01 de
maio deste ano e, nos poucos meses em que está à frente da Igreja de Mossoró,
tem desenvolvido um ministério marcado por muitas bênçãos. Trata-se de um
exímio e zeloso expositor da Palavra de Deus, que prima pela doutrina puramente
bíblica e que revela admirável preocupação com a saúde e o crescimento
espiritual do seu rebanho. É também um abençoado conselheiro, que acompanha,
com o cuidado de um autêntico pastor, cada uma das ovelhas que estão sob sua
responsabilidade. Além disso, é um competente administrador, o que já se
evidenciou em diversos momentos em que precisou agir no que se refere ao
patrimônio da Igreja.
Resta-nos, diante
de toda essa exposição, olhar para o passado e expressar nossa gratidão a Deus
por todos quantos contribuíram para que essa história de 30 anos fosse
construída. De modo especial, precisamos louvar a Deus pela vida de todos esses
pastores que, atendendo à orientação divina, desenvolveram seu ministério nesta
cidade, cada um a seu modo e com um perfil diferenciado, mas todos contribuindo
para que chegássemos até aqui, não obstante as adversidades. Em todos os
momentos, porém, logramos êxito, pois somos apenas membros de um corpo que tem
como cabeça ninguém menos que o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores: Jesus
Cristo. A Ele, a glória e toda a exaltação.
Presb. Marinézio
Gomes
A Igreja Congregacional
O regime de governo eclesiástico
conhecido como Congregacional, é um sistema onde cada congregação local é
autônoma e independente. A igreja local possui autonomia para sua própria
reflexão teológica, expansão missionária, relação com outras congregações e
seleção de seu ministério. O Congregacionalismo está baseado nos seguintes
princípios:
Cada congregação de fiéis, unida
pela adoração, observação dos sacramentos e disciplina cristã, é uma Igreja
completa, não subordinada em sua administração a qualquer outra autoridade
eclesiástica senão a de sua própria assembléia, que é a autoridade decisória
final do governo de cada igreja local.
Não existe nenhuma outra
organização ou entidade maior ou mais extensa do que uma Igreja local a quem
pode ser dada prerrogativas eclesiásticas ou ser chamada de Igreja.
As igrejas locais estão em
comunhão umas com as outras, são interdependentes e estão intercomprometidas no
cumprimento de todos os deveres resultantes dessa comunhão. Por isso, se
organizam em Concílios, Sínodos ou Associações. Entretanto, essas organizações
não são Igrejas, mas são formadas por elas e estão a serviço delas.
O Congregacionalismo é o regime
de governo mais comum em denominações como Anabatistas, Igreja Batista,
Discípulos de Cristo, Igreja de Cristo no Brasil e obviamente a própria
denominação que deu nome ao termo: a Igreja Congregacional.
a) Congregacionalismo na
Inglaterra
As origens do Congregacionalismo
nascem no século XVI com o surgimento do movimento puritano e dos separatistas
ingleses. As reformas introduzidas na Igreja Anglicana a partir do reinado de
Henrique VIII despertaram sentimentos de insatisfação em grande parte dos
súditos que por conta de sua revolta foram denominados puritanos. O desejo
destes puritanos era uma profunda reforma na vida doutrinária e litúrgica da
igreja. Por sua vez, os separatistas iam mais além, e formavam grupos separados
da igreja da Inglaterra em forma de protesto. Entre os grupos separatistas
surgem às primeiras manifestações históricas de comunidades organizadas sob o
regime de governo congregacional, visto defenderem que no governo que Jesus
Cristo estabeleceu, todos os verdadeiros pastores têm igual poder e autoridade.
Assim, nenhuma igreja deve exercer qualquer autoridade ou governo sobre outras,
e ninguém deveria exercer autoridade na Igreja se isso não lhe fosse conferido
por meio de eleição. “Richard Fytz é considerado o primeiro pastor de uma
igreja desse tipo, entre os anos de 1567 e 1568, na cidade de Londres”.
Por volta do ano 1580, foi
organizada uma congregação de sistema congregacionalista em Scrooby( povoado
próximo a Londres). Mas, por conta da grande perseguição religiosa, aqueles
irmãos migraram para os países baixos e em Leydem mais uma vez se organizou uma
destas congregações que tinha como pastor John Robinson. Em 1658 foi então
organizada e escrita a primeira confissão de fé dos Congregacionais chamada de
Confissão de Savoy. A mesma trata sobre os assuntos de fé e ordem quanto nas
igrejas locais de regime congregacional. Com a perseguição mais assídua devido
às normas estabelecidas pela rainha Maria Tudor (monarca da Inglaterra em lugar
de seu pai Henrique VI) os puritanos independentes formaram várias Igrejas
Congregacionais.
Houve também um grande esforço
missionário entre os congregacionais. Havia atividades missionárias tanto local
como trans-cultural. “no ano de 1640, já haviam missionários pregando aos
indígenas. A primeira Bíblia publicada no Novo Mundo foi de uma tradução
indígena. David Brained foi um dos primeiros missionários entre os indígenas.”
Houve entre os congregacionais grandes despertamentos espirituais que marcaram
a história entre estes destaco aquele ocorrido em 1734 na região da Nova
Inglaterra em Northampton. O pastor desta igreja Congregacional era Jonathan
Edwards e esse avivamento, é marcante visto ser conhecido como Primeiro Grande
avivamento espiritual.
b) Congregacionalismo no
Brasil
A história do Congregacionalismo
brasileiro tem sua origem em um trabalho missionário realizado pelo
médico-missionário escocês Robert Reid Kalley e sua esposa Sarah Poulton
Kalley, que chegaram ao Brasil em 10 de maio de 1855. O trabalho missionário
deste casal, esta datado como tendo início em 19 de agosto daquele ano, visto
que neste dia o casal Kalhey organizou uma Escola Bíblica onde dona Sarah
ensinou as crianças a história Bíblica de Jonas e o Dr. Kalhey pregou par os
homens. Como fruto deste trabalho nasceu ali na cidade de Petrópolis a primeira
igreja de regime Congregacional no Brasil. Igreja Evangélica Fluminense no Rio
de Janeiro. Alguns anos mais tarde, na cidade do Recife, no ano de 1873 é
organizada a Igreja Evangélica Pernambucana. Kalley não possuía vínculos com
nenhuma denominação. Ao estabelecer igrejas Kalley procurou direcioná-las
dentro de um conceito reformado, mas de governo independente, onde cada igreja
deveria estar pronta para comungar com a outra em amor e não por submissão
organizacional. A idéia era que cada igreja tomasse suas próprias decisões em
assembléia. Quanto a questões doutrinárias, salienta Joyce Every-Clayton:
"ênfase na importância das
doutrinas essenciais do Cristianismo sempre foi típica de Kalley". E o
historiador presbiteriano Alderi Souza de Matos destaca: "A teologia de
Kalley pode ser descrita como um tipo de evangelicalismo amplo".
A partir de então, a Breve
Exposição estaria no centro da identidade das Igrejas Evangélicas Fluminense e
Pernambucana, e mais tarde do próprio ente associativo que agruparia as igrejas
kalleyanas. Em certa ocasião, Kalley escreveu: "A Igreja Evangélica
Pernambucana considera-se filha da Igreja Evangélica Fluminense e convêm
conservar esse sentimento e estritar as relações entre as duas igrejas por meio
de correspondência regular... e por quaisquer outros meios. Será conveniente
formar uma associação das igrejas que aceitam os 28 artigos da Breve
Exposição"[. Para James Fanstone, pastor da Igreja Pernambucana, a Breve
Exposição era base para o trabalho dos pastores das igrejas kalleyanas:
"Nossas igrejas e congregações precisam de pastores, e não somente de
evangelistas - pastores que trabalharão tendo como base a Breve Exposição -
homens que tentarão desenvolver o trabalho seguindo a mesma linha das igrejas
kalleyanas no Rio e em Pernambuco".
As igrejas Congregacionais em sua
maioria adotam como declaração de fé a Breve Exposição das Doutrinas
Fundamentais do Cristianismo e a Confissão de fé de Savoy. Seu corpo
eclesiástico é formado por pastores, presbíteros e diáconos.
c) Surgi a Aliança das
Igrejas Evangélicas Congregacionais Do Brasil
1959, o ano está no
começo. A Igreja Evangélica Congregacional em João Pessoa/PB está em
festa, é uma comemoração das senhoras, e o Pr. Dorival Rodrigues Bewke é o
preletor do evento. As pregações causam um grande despertar espiritual, muitas
decisões acontecem e a experiência do batismo com o Espírito Santo entendida
também como um evento após a conversão é vivenciada. A partir daí, uma nova
atmosfera espiritual toma conta da igreja.
Com a realização do
1° Encontro Nacional de Renovação Espiritual,em Belo Horizonte/MG, que teve a
participação do pastor da igreja, Jônatas Ferreira Catão, a Igreja
Congregacional em João Pessoa é destaque no cenário de avivamento
espiritual. Pouco depois, se juntam a esta visão a Igreja
Congregacional em Campina Grande/PB (Pr. Raul de Souza Costa), 2ª Igreja
Congregacional em Campina Grande/PB (Pr. João Barbosa de Lucena), Igreja
Congregacional de Patos/PB (Pr. José Quaresma de Mendonça), Igreja
Congregacional em Alagoa Grande/PB (dirigida à época pelo presbítero Dr.
Guimarin Toledo Sales), Igreja Congregacional em Totó, Recife/PE (Pr. Isaías
Correia dos Santos), Igreja Congregacional em Casa Amarela, Recife/PE (Pr.
Roberto Augusto de Souza), igreja Congregacional no Pina, Recife/PE (Pr. Moisés
Francisco de Melo) e uma congregação em Caruaru/PE, dirigida à época pelo pr.
Jônatas Catão.
Corre o ano de
1967, uma onda de renovação espiritual se alastra pelas igrejas evangélicas
históricas do país. No mês de junho, na cidade de Patos/PB, acontecem os
congressos femininos e de mocidade Congregacionais, estes eventos foram de
muito impacto e tiveram muita repercussão. A liderança da denominação dos
Congregacionais no país (na época o órgão se chamava Igreja Evangélica
Congregacional do Brasil), não concordando com os rumos que aquelas igrejas
estavam tomando, convocou um Concílio Geral Extraordinário para os dias 20 e 21
de julho, na Igreja Congregacional em Feira de Santana/BA. Nesse Concílio,
participariam as igrejas Congregacionais que não concordavam com a renovação,
porém, outro foi realizado entre os dias 21 e 22 do mesmo mês, com a
participação das igrejas ditas renovadas.
Aconteceu o
referido concílio e a decisão final por não haver concordância foi a exclusão
da denominação das igrejas de João Pessoa, as duas de Campina Grande, Patos,
Natal, Totó, Pina, e também a exclusão dos pastores: Jônatas Catão, José
Quaresma, Isaías Correia, Moisés Francisco, Raul de Souza, João Barbosa e
Roberto Augusto, sendo negada qualquer palavra a eles nos trâmites da
assembléia para sua defesa.
Ainda no caminho de
volta, o Pr. Jônatas Catão sugeriu a possibilidade de reunir os excluídos em um
grupo com características denominacionais, e foi marcada uma reunião para 13 de
agosto, em Campina Grande/PB.
Foi realizado um
contato com o Pr. Servilho Benício, da Igreja Congregacional em Dezoito do
Forte, Aracaju/SE, sua igreja já estava seguindo os caminhos da renovação
espiritual e ele, após ouvir os últimos acontecimentos, se mostrou favorável a
criação da nova denominação.
Em todas as
negociações prévias, visitas a pastores e sugestões de direção, o trabalho do
Pr. Jônatas Catão foi de um valor inestimável, ele foi um grande líder.
No dia 10 de agosto de 1967, um
domingo, as delegações das igrejas foram recebidas na Igreja
Congregacional em Campina Grande, muitos líderes acorreram ao evento. E no
dia 14 foi aberta a primeira reunião administrativa onde é fundada a ALIANÇA
DAS IGREJAS EVANGÉLICAS CONGREGACIONAIS DO BRASIL e eleita por aclamação a sua
primeira diretoria:
Pres. Raul de Souza
Costa
1° Vice-Pres.
Jônatas Ferreira Catão
2º Vice-Pres.
Geraldo Batista dos Santos
1º Sec. Presb.
Euclides Cavalcanti Ribeiro
2º Sec. Presb.
Euclides Gomes da Costa
1º Tes. Osmar de
Lima Carneiro
2º Tes. Presb.
Caitano Antônio da Silva.
Os presentes
encerram os trabalhos de mãos dadas felizes e realizados. No dia 19 de agosto
de 1967, em grande festa em Caruaru/PE, é instalada a Igreja Evangélica
Congregacional naquela cidade, e é empossado como seu pastor visitante Jônatas
Ferreira Catão. Essa foi a primeira igreja emancipada da recém-formada ALIANÇA,
e daí por diante o evangelho do reino foi sendo espalhado por todo Brasil.
Hoje, temos uma
denominação forte e vibrante com 91 igrejas, 26 campos missionários, muitos
pastores e milhares de membros com muitas expectativas de crescimento em todas
as áreas, sem fugir da ortodoxia evangélica e entrar nos modismos atuais.
Agora, mais do que
nunca, as palavras do hino que foi um marco naquela época se fazem valer:
“Obra Santa do
Espírito
Esta causa é do
Senhor.
Como um vento
impetuoso
Como fogo abrasador
Estamos sobre terra
santa
Reverente e muito
amor
Esta hora é decisiva
Vigilante e de
temor.
Ninguém detém! É
obra santa”.
*Muitas das
informações do texto seguem testemunho do presb.Osmar de Lima Carneiro,
participante ativo dos eventos.
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